*publicado no blog Agora É Que São Elas, da Folha de São Paulo

Nem tudo tem sido derrota nas terras de sangue latino. Tal qual o rubro das bandeiras da esquerda, México e Espanha viraram poderosos holofotes vermelhos na escuridão que sombreia Brasil, Argentina e tantas outras nações amortecidas pela direita política. A lição democrática que chegou aos governos da Espanha e México, com os líderes Pedro Sanchez e López Obrador mostrou ao mundo que é necessário se fazer política sim com paridade de gênero. O México ainda teve a façanha de eleger a primeira mulher como comandante da Cidade do México, a física e engenheira elétrica Claudia Sheinbaum. Por sua vez, Pedro tem maioria de mulheres em seu governo e Obrador formou metade de seu gabinete principal com elas. Que exemplo!

Realidades bem distantes do Brasil, é claro, que ocupa o 161° lugar em ranking da presença de mulheres no Poder Executivo, segundo o Projeto Mulheres Inspiradoras de 2018. A derrubada da presidenta Dilma Rousseff (primeira mulher eleita presidente em nossa História), em 2016, num golpe parlamentar, deu ao nosso país essa vitrine vergonhosa de Temer e sua corja. Hoje, um governo majoritariamente masculino, branco, rico, e envolvido em escândalos de corrupção. Cheira a mofo, atraso e aspirante à colônia de império, não só na teoria, como na prática. Pobre país o nosso!

O frescor que emana dos países que valorizam a participação das mulheres na política tem que ser fortalecido por aqui também. As eleições de outubro precisam resgatar a realidade brasileira, onde mais da metade da nossa população é composta por mulheres. Por que sermos apenas 10% do Parlamento se somos milhões no Brasil? Dá pra manter este estado de coisas? Quantas mulheres formidáveis e representativas poderiam estar eleitas e promovendo a política como ferramenta maior de transformação social? Precisamos mudar o perfil do poder em todas as esferas através do voto e de ocupações políticas, que superem a desigualdade e enfrentem a opressão de gênero. Coragem, ousadia e luta! Vamos nessa, mulheres!

Uma poderosa campanha da sociedade civil organizada, de coletivos feministas e da mídia independente, batizada de “Campanha de Mulher” (www.campanhademulher.org), tem levantado essa questão com força ao divulgar pré-candidatas em todos os estados. Ações como essa, se fortalecidas e abraçadas pela população, poderão mudar o horizonte de 2019.

Desde a redemocratização, caminhamos muito até aqui. Na Câmara dos Deputados criamos a bancada feminina – um dia já batizada pejorativamente de “bancada do batom” – e lutamos fortemente para que temas ligados à saúde, educação, trabalho e direitos de gênero fossem melhor analisados no Congresso Nacional. A Lei Maria da Penha, um enorme avanço legislativo que pude escrever seu texto final, virou realidade e hoje protege milhões de brasileiras. Até a cota de 30% em participação feminina nas eleições, da senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB/AM), chegou a ser aprovada no Senado Federal, restando decisão final da Câmara. São exemplos de que nunca foi fácil, mas tivemos muitas vitórias nesse caminho. E sempre fomos poucas… imagina se essa realidade fosse diferente? O quanto já teríamos conquistado em Brasília e nas assembleias legislativas Brasil a fora?

Que outubro responda à renovação política que tocou o México e a Espanha. Para avançarmos mais, para chegarmos mais longe. Juntas.

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