Após o incêndio no Museu Nacional, a criação da Agência Brasileira de Museus (Abram) por força de Medida Provisória do Governo Temer, extinguindo o Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) é uma afronta à política de cultura, ciências e memória do país. A afirmação vem do ex-presidente do IBRAM, José do Nascimento Junior, que conclama os setores envolvidos a impedirem a continuidade da ABRAM seja pelo STF, seja pelo Parlamento (que votará a Medida Provisória). Nosso 2 Dedos de Prosa ESPECIAL é com ele, numa produção de Bruno Trezena.

Bruno Trezena: O que significa a criação da ABRAM?

José do Nascimento: Esse Governo, na verdade, tenta dar uma resposta para sua própria omissão durante todos esses meses, que foi o não investimento na rede de museus e patrimônio do Brasil. Se lembrarmos o início do Governo Temer, houve uma tentativa de extinção do próprio Ministério da Cultura, tentando encerrar um poderoso instrumento de preservação da nossa identidade. Mas graças às forças de mobilização cultural, como o OCUPA MINC, entre outros, isso foi revertido. Daí você tira a relação com a cultura que tem esse governo. Se aproveita do momento do incêndio do Museu Nacional para retomar a prática mercadológica na Cultura, de extinguir instrumentos públicos, como é o IBRAM para a gerência privada dos museus brasileiros.

BT: Então a ABRAM chega para missão de privatizar a rede de museus…

JN: Exatamente. A criação do ABRAM é para privatizar os museus brasileiros. É entregar os museus para as Organizações Sociais (OS), privatizando a memória, a Cultura, a nossa identidade. É um absurdo! Nenhum país do mundo trabalha com essa política. O Museu do Louvre, na França, jamais seria controlado por uma OS. Os governos investem porque os museus têm papel estratégico na construção do conhecimento, da ciência, da pesquisa. Não há projeto de nação sem a cultura ser estratégica. Você não vê, por exemplo, uma China privatizando seus museus ou patrimônio cultural.

BT: Qual o papel do Ministério da Cultura nesse processo?

IN: O atual ministro (Sérgio Sá Leitão) até outro dia defendeu a venda de nossos acervos. Dá pra ter noção disso? Já é uma visão mercadológica gravíssima no posto principal da Cultura nacional. É questão grave. Daqui a pouco vão vender a coroa de Dom Pedro, as obras de Portinari… É uma apropriação cultural do capital e uma visão colonialista sem precedentes, o privado valendo bem mais que o público. E a questão privada não melhora. Pegue o Museu de São Paulo, o museu da América Latina… pegaram fogo. O IBRAM é a garantia de política de museus para o Brasil inteiro.

BT: Como reverter isso?

IN: Tem uma guerra ainda a ser feita. É preciso derrubar a Medida Provisória no Parlamento. A MP tem várias inconstitucionalidades. Precisamos nos unir para questionar no STF.

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